Há um sentido real no qual a Igreja tem o seu dia de nascimento no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo foi dado aos homens de maneira nova para unir os crentes em Jesus através de um novo relacionamento.
1. Pentecoste, significando o qüinquagésimo, é a palavra grega para a Festa das (sete) Semanas descrita em Lv. 23:15-22, que celebrava a conclusão da colheita.
2. Todos os 120 discípulos estavam reunidos em um só grupo e no mesmo lugar – provavelmente o cenáculo (1:13). De comum acordo é o que diz um texto inferior.
Veio do céu um som, como de um vento impetuoso. Não foi um vento; tinha o som de um vento. Pneuma pode ser tanto vento como espírito; e o vento é um símbolo do poder do Espírito e também de sua invisibilidade (Jo. 3:8). O que eles viram não foram realmente línguas de fogo mas como de fogo.
3. O sinal visível foi algo que só podia ser comparado às chamas do fogo que se dividiam em línguas separadas as quais repousaram sobre cada um dos discípulos. Muitos compreenderam que era o cumprimento da promessa feita por João do batismo com fogo (Lc. 3:16). Entretanto, não havia fogo presente no Pentecostes, mas algo como fogo; e o contexto do Evangelho sugere que o batismo de fogo é o juízo daqueles que rejeitam o Messias – o queimar da palha com fogo inextinguível.
4. Quando o Espírito Santo foi dado aos homens, os discípulos foram batizados (1:5) e ao mesmo tempo cheios do Espírito Santo. O batismo do Espírito foi descrito em I Co. 12:13. É obra do Espírito Santo reunir pessoas de diversas raças e antecedentes sociais variados em um só corpo – o corpo de Jesus Cristo, que é a sua Igreja. No sentido restrito da palavra, Pentecostes foi o dia do nascimento da Igreja. Este batismo com o Espírito nunca se repetiu. Foi mais tarde estendido aos crentes na Samaria (Atos 8), aos gentios (caps. 10 e 11), e aos discípulos de João Batista (19:1-6). O enchimento com o Espírito foi muitas vezes repetido, mas não o batismo com o Espírito.
5. Os discípulos foram, ao que parece, levados do cenáculo para um lugar aberto na cidade, possivelmente a área do templo, onde havia uma multidão reunida. Os homens piedosos eram judeus da Diáspora, que foram esparsos pelo mundo mediterrâneo mas que retornaram à Cidade Santa.
6. As outras línguas (v. 4). Não linguagem de êxtase religioso. Por meio de um milagre a língua dos apóstolos foi traduzida pelo Espírito Santo em diversas línguas sem que houvesse um tradutor humano. Este fenômeno não é o mesmo que a glossolália ou dom de línguas de I Co. 12 e 14, que eram ininteligíveis até que fossem interpretadas. Possivelmente o Espírito Santo agia como intérprete no Pentecoste, de modo que diversos grupos que falaram em línguas diferentes ouvissem a sua própria língua sem a mediação de intérprete humano.
7. Foi uma coisa espantosa que esses homens cujo sotaque mostravam que eram judeus galileus parecessem falar muitas línguas estrangeiras.
9-11. Esses países formavam um circuito à volta de todo o Mar Mediterrâneo. Muitos desses povos podiam falar o grego popular do mundo helênico, mas falavam também suas línguas nativas (cons. 14:11). Romanos que aqui residem. Judeus e gentios convertidos (prosélitos) vindos de Roma, que estavam temporariamente residindo em Jerusalém.
12, 13. Todos os ouvintes estavam perplexos (cheios de dúvida) sem entender o que estava acontecendo. A acusação de bebedeira sugere que além das línguas estrangeiras, havia também o elemento estático nesse primeiro dom de línguas.
14. Uma grande multidão reuniu-se por causa dessa agitação (v. 6), provavelmente no pátio externo da área do templo. Pedro ofereceu uma explicação do que tinha acontecido diante dos seus olhos e então partiu para uma proclamação do Evangelho, que essencialmente se constituiu no anunciamento do Messiado de Jesus.
15. Primeiro Pedro acabou com a idéia de que os discípulos estivessem bêbados, fazendo ver que eram apenas nove horas da manhã e portanto cedo demais para que alguém estivesse bêbado.
16. Não era nenhum espírito mas o Espírito Santo que se apossara deles. Pedro citou Joel 2:28-31, que prediz o derramamento do Espírito Santo sobre Israel na era messiânica. É importante que se observe que uma profecia que, em Joel, foi dirigida à nação de Israel, cumpria-se agora na Igreja Cristã. No propósito redentor de Deus, entretanto, Israel também se inclui no cumprimento desta profecia (Rm. 11:26).
17. Nos últimos dias não se encontra na profecia de Joel mas foi acrescentado por Pedro sob divina inspiração. No V.T. esta frase indica a era messiânica no reino de Deus (Is. 2:2; Os. 3:5). A dispensação do Evangelho é, portanto, um estágio na realização das bênçãos da dispensação messiânica. No V.T., o Espírito Santo era concedido principalmente a pessoas que ocupavam posições oficiais na teocracia de Israel – reis, sacerdotes e profetas. A nova missão do Espírito Santo era repousar sobre toda a carne, isto é, sobre todo o povo de Deus e não somente sobre os líderes oficiais. A promessa de que esse novo derramamento do Espírito resultaria em uma nova manifestação de profecia, visões e sonhos, cumpriu-se na experiência dos apóstolos e profetas da dispensação do N.T. Criam os judeus que o Espírito Santo, que inspirava os profetas do V.T. e suas mensagens, silenciara durante o Período Inter-Testamentário. Pedro assegurou que o Espírito Santo tornara-se ativo novamente em uma nova manifestação do propósito redentor de Deus. Isto se vê nas últimas palavras de Atos 2:18, onde Pedro acrescentou à profecia de Joel a declaração, e profetizarão. Esta nova manifestação de profecia não era tanto a previsão do futuro, mas sim a pregação do significado da obra redentora de Deus através de Jesus, o Messias.
19, 20. A última metade desta profecia de Joel não se cumpriu nos dias de Pedro como se cumpriu o derramamento do Espírito. O dia do Senhor. O dia da vinda do Senhor em glória para estabelecer o seu reino no mundo com poder e glória. Esta consumação final seguir-se-á a um julgamento que sobrevirá à ordem terrestre e da catástrofe cósmica emergirá uma nova e redimida ordem da natureza e do mundo (Rm. 8:21). Os últimos dias são, assim, destacados do Dia do Senhor.
21. Esse derramamento do Espírito Santo ocasionará um grande dia de salvação, e qualquer um que invocar o nome do Senhor será salvo.
Senhor em Joel refere-se a Deus, mas Pedro e a igreja primitiva aplicou-o a Jesus exaltado.
22, 23. Pedro recapitulou a vida e morte de Jesus para mostrar que não foi mero acidente mas que aconteceu dentro do plano redentor de Deus. Apesar do fato de Deus ter autenticado o Cristo por meio de milagres, prodígios e sinais... entre vós os judeus, eles o entregaram às mãos de iníquos, os romanos, que ignoravam a lei de Deus, para que fosse crucificado e morto. Apesar de que nem romanos nem judeus foram absolvidos da culpa, a morte de Jesus aconteceu de acordo com um determinado desígnio e presciência de Deus.
24. Embora juízes humanos condenassem Jesus à morte, uma corte mais alta ressuscitou-o dos mortos, uma vez que era impossível que o Messias permanecesse sob o poder da morte.
25-28. Logo a seguir Pedro provou que a morte do Cristo fazia parte do plano redentor de Deus, mostrando que fora previsto nas Escrituras do V.T. Citou o Sl. 16:8-11, uma passagem que no seu próprio contexto refere-se a Davi e a sua esperança de salvação da morte. Mesmo na morte, Davi esperava ver a face do Senhor. Por isso Ele podia se submeter à experiência da morte na esperança de que Deus não abandonaria a sua alma na morte (Sheol), a habitação dos mortos depois da morte, nem permitira que Ele visse corrupção da sepultura. Uma vez que Deus é o Deus dos vivos, apesar do V.T. não revelar plenamente a vida após a morte, Davi estava confiante que Deus lhe mostraria os caminhos da vida e lhe proporcionaria a plenitude da alegria da presença divina mesmo depois da morte.
29. O apóstolo tornou claro que esses versículos não podiam se referir a Davi, uma vez que Davi morreu de fato e experimentou a corrupção. Na verdade, o seu túmulo podia ser visto ao sul da cidade de Jerusalém. O salmista, portanto devia estar se referindo a um descendente de Davi mais importante, ao Messias.
30, 31. Deduz-se que o salmista falou profeticamente de um dos seus descendentes, o Cristo que se assentaria no trono de Davi. Nessas palavras de Davi, Pedro encontrou a profecia da ressurreição de Cristo.
32. A ressurreição do Messias, prevista pelo salmista, podia ser agora comprovada pela experiência dos apóstolos.
33. Jesus não fora apenas ressuscitado dos mortos; Ele também foi exaltado, pois, à destra de Deus e dessa posição exaltada derramou sobre o Seu povo o dom do Espírito Santo profetizado por Joel.
34, 35. Novamente Pedro citou os Salmos (110:1) para mostrar que a exaltação de Cristo também estava nas Escrituras proféticas. O Senhor Deus dissera ao Messias, o Senhor de Davi, que Ele se assentaria à direita de Deus até que todos os seus inimigos estivessem subjugados. Desses versículos podemos concluir que Cristo continua entronizado nos céus e no sentido literal está exercendo o seu reinado messiânico (Ap. 3:21).
36. O coração do Evangelho é este: que Jesus, ressuscitado dos mortos e exaltado à direita de Deus, foi feito Senhor e Cristo (Messias). Seu messiado significa senhorio; Ele reina à direita de Deus como Senhor e Rei. O cumprimento do ofício messiânico realizou-se de maneira nova e inesperada. O Senhorio de Cristo foi a doutrina cardinal da cristandade primitiva. Jesus entrou no exercício de Seu Senhorio em virtude de Sua exaltação (Fl. 2:9-11) e a salvação se encontra confessando que Jesus é o Senhor (Rm. 10:9).
37. Os ouvintes de Pedro ficaram convencidos e convictos. Compungiu-se-lhes o coração compreendendo que tinham condenado à morte o Messias de Deus, e conseqüentemente perguntaram o que deviam fazer para se livrarem dessa horrível culpa.
38. Pedro replicou que a misericórdia podia perdoar até mesmo esse pecado. Era preciso que houvesse uma reação dupla: arrepender-se e ser batizado em nome de Jesus Cristo. Arrepender-se significa dar meia-volta e abandonar seus caminhos pecaminosos, confessando a fé em Jesus como seu Messias. O batismo seria a evidência pública desse espírito de arrependimento. O resultado seria a remissão dos pecados e a recepção do dom do Espírito Santo. A recepção do Espírito Santo não depende do batismo, mas segue-se ao batismo, que é o sinal exterior e visível de um espírito penitente. Na igreja primitiva os convertidos eram batizados sem delongas. Assim o batismo e a recepção do Espírito eram praticamente simultâneos.
39. Essa nova era de bênçãos messiânicas, explicou Pedro, concederia o Espírito Santo não apenas aos líderes tais como profetas, sacerdotes e reis, mas sobre todos os que se arrependessem, sobre seus descendentes e até sobre os de fora da família de Israel, a todos quantos Deus chamasse para a salvação.
O dom do Espírito Santo. O dom do próprio Espírito, não algum dom que o Espírito concede.
40, 41. O apóstolo, logo após, exortou seus ouvintes a salvarem-se desta geração perversa, que condenara Jesus à morte, aceitando o seu apelo de arrependimento e o seu testemunho de que Jesus era o Messias deles. O resultado foi que cerca de três mil pessoas aceitaram sua palavra e foram batizadas professando sua fé e foram acrescentadas à comunidade do pequeno círculo de crentes. Não há nenhuma indicação de que os apóstolos tenham imposto as mãos sobre esses novos convertidos para que eles recebessem o Espírito Santo.
Em Cristo
Marcos
31/12/11
Nenhum comentário:
Postar um comentário